Nota 58

September 24, 2009

[Vimeo 7894757]


Nota 57

May 29, 2008

Um dia me pediram para definir a cidade em que eu acordo todos os dias. A falta de resposta me levou a procurar um método para descobrir esse lugar que me é tão corriqueiro. Com o mapa de Belo Horizonte em mãos, sorteava o quadrante aonde deveria ir. O video se constrói nesses passeios, revelando o cotidiano de lugares escolhidos ao acaso e do meu encontro com essa outra cidade.

Esta é a sinopse do vídeo que originou este Blog. Hoje é o dia do lançamento do vídeo e, por isso, esta será a última nota postada.

Para aqueles que não conhecem esta página, ela foi utilizada, durante 1 ano e 5 meses, como pesquisa do trabalho audiovisual que dá título à mesma. Acreditava que se organizasse os escritos sobre o projeto em um blog público, poderia visualizar melhor o personagem e construir um diário de filmagem mais sistemático. As primeiras notas são observações soltas sobre Austin, cidade texana em que estava quando comecei a desenvolver a pesquisa. As últimas, escritas em Belo Horizonte, fazem parte do diário de filmagem.


Nota 56

May 29, 2008

Ela continuou descendo a ladeira e já na esquina respondeu que o motivo que a levou até aquela rua e deu início a todos aqueles percursos era a ausência da resposta quando certa vez lhe perguntaram:
“Como é a cidade em que você acorda todos os dias?”


Nota 55

February 12, 2008
nota deixada no passeio em JJJ25.

Nota 54

February 12, 2008

UU48 é traçado no mapa com vias estreitas, casas simples e calçadas povoadas por famílias inteiras. A avó, a mãe, filhos e netos ficam, ora sentados na soleira das portas, ora jogando bola, trocando figurinhas ou posando para a câmera. Não parece ser um lugar onde existe dois grupos rivais de territórios muito bem delimitados.

Parado em uma esquina, no alto da rua estreita, um senhor de mais idade, com uma bengala na mão esquerda e um guarda-chuva na direita me olhou e disse: “Quanto tempo que eu não te vejo… Fico feliz demais quando te encontro e, sempre que lhe digo isso você me responde: – Eu também fico muito feliz em te ver.”

Apesar de nunca tê-lo encontrado, respondi o que ele havia dito que eu deveria responder e continuamos parados, um olhando para o outro.

Conversamos um pouco sobre as lembranças e a falta delas, ele me falou um pouco sobre a minha família, que não conheço, dos nossos encontros anteriores e me disse que, se não chovesse, iria para a Igreja no final da tarde. Tirou um papel do bolso e me entregou, não saía de casa sem ele. Era uma consulta com um médico de olhos, em um hospital de Belo Horizonte. Deveria esperar o dia 31 de janeiro – data da consulta -, ou 40 dias, para exanimar os olhos negros, já acinzentados pela catarata.

Fui embora, conhecendo um pouco dessa pessoa, que não era eu, mas que fui por alguns minutos, ao longo de nossa breve conversa. Ele continuou em pé, parado, na esquina onde ela o havia encontrado.


Nota 53

February 12, 2008

EEE40 é pontuada pelo horário do trem. Lá os acontecimentos se alteram de 20 em 20 minutos. À primeira vista tudo parece usual. As casas coloridas, com seus jardins bem cuidados e senhoras na janela desenham a imagem de um lugar conhecido. A mudança é sutil, porém,  com o tempo, o exercício de percorrer as ruas de EEE40, mostra ao caminhante que 01 dia  vivido lá abrange vários ciclos de dia.

Pouco antes do trem passar, como se adivinhassem seus horários, as senhoras saem das janelas e fecham suas venezianas; os gatos entram nos canos ou nas frestas dos telhados; quem caminha pela rua entra logo em uma casa ou em um estabelecimento qualquer; os passarinhos se calam. Assim, quando o trem atravessa EEE40, as ruas vazias propagam um som ensurdecedor, que fazem o tempo parar. Não existe mais movimento, apenas o som retumba, em uma noite, onde todos  recolheram mas o sol ainda se faz presente.

Depois de alguns minutos, tudo parece re-acordar. Novamente as janelas se abrem, os cachorros passeia pelas ruas, carros buzinam, mas em 20 minutos, tudo estará deserto de novo. E assim acontecerá pelo resto do dia.


Nota 52

February 12, 2008

AAA 44 é um grande espaço no centro da cidade. O coreto, as fontes e os bancos de praça estão cercados por palácios e palmeiras. Um retângulo sem paredes e de muitos planos. Lá enxerga-se por entre, a visão parece nunca ser obstruída. Meninas nadam na fonte da praça, enquanto:

Funcionários da prefeitura plantam um fileira de mudas;

Carros contornam a praça;

Pessoas, em sentido contrário aos carros, contornam a praça (lembrando um rito matinal ou uma forma de protesto);

Adolescentes andam de skate;

Um varredor de rua pára para ler uma mensagem na árvore (nota 33 deste blog);

Velhos conhecidos se encontram;

Uma senhora, sentada no banco de madeira, observa o movimento continuo e os narra em voz alta;

enquanto eu escrevo esta nota.


Nota 51

February 12, 2008

DDD23 apresenta uma subida sem fim com o nome de Dolores Duran. Lá do alto, muitas antenas de diferentes tamanhos e formas, uma caixa d’água e uma vista larga da cidade. Dolores termina na beira de um despenhadeiro. Antigamente, aos seus pés havia uma lagoa, onde muitos morreram afogados, mas com o passar dos anos toda a àgua desapareceu. Os velhos moradores reinventam a paisagem e os casos passados, os novos passeiam de velotrol entre as casas de telha de amianto que ocupam o lugar onde existia a Lagoa do Paulinho. Dolores, do alto, assiste, parada, o tempo passar.


Nota 50

February 12, 2008

EEE16 é um espaço sem imagens. De lá carrega-se apenas o nome da estrada do sanatório e um cheiro forte de abandono, que acompanha a estrada de mão dupla e suas árvores.


Nota 49

February 11, 2008

Em KKK37 passeio sob as Mangueiras. O céu está coberto das árvores. Um garoto enche de mangas um saco de plástico. Debaixo da sombra sinto o sopro suave da brisa. Entre as folhas às vezes escapam lascas de azul, às vezes os dedos, as pernas, os gritos das crianças, que encontram as frutas. Larissa vem ajudar. O sol ilumina apenas a casa ao fundo, fazendo o seu branco arder. Sentada nas pedras do calçamento, ao lado das mangas caídas, fiquei, por muito tempo, achando e perdendo os frutos ainda nas árvores, os meninos e a Larissa.


Nota 48

February 11, 2008

Em III 32 existe duas ladeiras irmãs. Uma em frente à outra. Meninos, empinando papagaios, sobem e descem atrás de um sopro de vento, sempre à correr. Homens e mulheres sobem lentamente, em zig-zag, fazendo o percurso soar menos íngreme após um dia de trabalho. O estrangeiro que se aventura a subir uma das ladeiras, precisa parar para descançar no meio do caminho. Assim, ele começa a observar o movimento da ladeira gêmea, situada logo à sua frente e acaba sendo hipnotizado por ela, ficando ali durante horas. Um carro de polícia, uma menina que para chegar em casa deve atravessar uma ponte de cimento, a sombra de uma pipa e dos fios dos postes desenhados no chão, um saco plástico que sobe a ladeira desafiando a gravidade, a coreografia de três meninas e a conversa entre vizinhos, que sobre a laje das casas, se comunicam de uma ladeira para a outra.


Nota 47

February 11, 2008

YY 43 abriga uma praça onde o Jogo de Dama é feito com tampas de garrafas de plástico. As peças azuis e brancas povoam uma mesa de pedra, com quadrados pretos e brancos encrustados. De cabeça para baixo, as tampinhas eram peões; de cabeça para cima, viram damas. Sentado ao lado de seu carrinho, o vendedor de picolé parecia se interessar mais pelas Damas do que pelas vendas e seus fregueses já conheciam a velha disputa em torno daquele tabuleiro. Enquanto alguns desejavam se tornar o rei da Dama, as gangorras assobiavam o encontro de metais, que amenizavam o barulho dos carros ao redor da praça; três estátuas de bronze acenavam para as meninas que se molhavam nas águas da fonte; uma mulher chorava em um banco de madeira; quatro jovens de uniforme namoravam em outro banco de madeira e os carros continuavam a circular o quadradado onde a praça estava desejanhada. Seguindo o caminho dos carros percorremos por ruas conhecidas, que preenchem o pensamento de lembranças não muito distantes.


Nota 46

February 9, 2008

TT14 possui uma árvore grande e, com um sachê vermelho pendurado em um de seus galhos, parecia anunciar que o Natal estava próximo. As nuvens cinzas do céu, vez ou outra, deixam escapar um pedaço de seu azul. Uma chuva fina acompanha as pessoas que caminhavam pela rua, cada um com sua manga nas mãos. Os cachorros latem sobre as lajes das casas. Uma menina, vestida de azul, passeia com seu pudle branco. Um menino voa com a pipa de folha de caderno, fabricada por ele mesmo. Um homem, vestido com o uniforme de futebol, passeia com o seu ramister, ainda sem nome, todos os dias 6 horas da tarde, acompanhado pela mesma chuva fina. Em um esquina, galinhas ciscam sobre o asfalto, enquanto um garoto enche um saco de plástico com mangas, para presentear os vistantes.


Nota 45

December 3, 2007

BBB21 se situa entre algas – marinha, azul, vermelha, dourada. Entre elas nenhum prédio ou casa. Os espaços ainda são vazios. Ao olhar para baixo avista-se uma rodovia, com seus carros pequenos. Quanto mais se sobe, menores e menos barulhentos eles ficam. Uma escada fina de cimento parece ser o caminho para o céu. Lá, outro espaço vazio.
Um homem recolhe alguns entulhos. Um menino trabalha em uma ferragem fazendo estruturas de cadeira. Uma mulher faz da sua garagem uma horta-jardim.
De entre as algas carrego mudas de morango, alecrim, hortelã, dedo-de-moça e melissa.


Nota 44

December 3, 2007

SS29 parecia deserta. As casas escondiam seus desenhos sob os muros altos. Na rua, árvores ainda pequenas e uma lata de tinta enferrujada parecia ser um sinal de poucas pessoas. Muitos cachorros latiam e, pela fresta dos portões colocavam os focinhos para tentar descobrir o mundo de fora.
Á medida em que a subida virava descida, a paisagem ia mudando. Um lote vago, com muros e sem portão nos mostrava uma cidade ao longe. As casas iam ficando menores. Crianças brincavam na rua decorada com roupas coloridas estendidas nas cercas de arame. Um vendedor de vassouras. Uma carroça-caçamba com material de construção.


Nota 43

December 2, 2007

JJJ25 ou Dona Chiquinha era uma rua curta entre a rodovia e a avenida. Caminhei de uma extremidade a outra. O sol do meio-dia aumentava o sentimento árido que pairava sobre o cimento cinza. As sombras alongavam os postes. O barulho do trânsito era intenso. Ao lado, um vendedor de picolé com seu carrinho de guarda-sol colorido traçava uma paralela à margem dos caminhões. Goiaba, manga, abacaxi. Lembrei de Jem Cohem e seu vendedor de amendoim.


Nota 42

December 2, 2007

WW19 é habitado mais por carros do que por pessoas. Quarta-feira de estabelecimentos comerciais e igrejas evangélicas com as portas fechadas. O sol forte aumenta o sentimento árido que paira sobre as ruas. Uma placa de aluga-se e uma gaiola vazia na Avenida Érico Veríssimo aumentam esse sentimento.
Um homem, que trabalha em um presídio, não quer que ninguém fotografe a sua casa. D. Neuza estuda a bíblia enquanto oferece roupas infantis na véspera do dia das crianças. Ela não quer ser fotografada por não ter pintado as unhas esta semana. Ao lado de um prédio em construção três meninos conversam sobre a importância de ter um porquinho para guardar dinheiro. Um outro, ao ver a placa “ensina-se violao”, diz que gostaria que ali estivesse escrito “ensina-se piano”.


Nota 41

December 2, 2007

PP20 ladeia o Céu Azul e tem muitos passarinhos nas gaiolas e árvores carregadas de mangas ainda verdes. Vassouras varrem a poeira seca das ruas. Loterias e pequenos comércios se fazem dentro das casas. Os sons das igrejas se misturam com os sons da rua. Arames farpados separam um grande descampado com dois coqueiros e alguns bois da rua principal.


Nota 40

December 2, 2007

OO38 me lembrou outro lugar. Era um bairro de casas simples, pequenos comércios, um burburinho mudo nas esquinas. Ouvi um sino de vento. Sentado na soleira da porta, alguém, a tarde toda. Mulheres nas calçadas varrem a poeira seca, que volta. Um homem caminhava devagar debaixo do sol.


Nota 39

September 27, 2007

A proposta é ser levada pelo acaso. Com um mapa de Belo Horizonte em mãos, sortearei o quadrante do mapa que será o ponto de partida da gravação. A imagem e o som serão feitos em dias distintos, mas partiremos do mesmo lugar, no mesmo horário.

Cada quadrante possui uma letra e um número correspondente. As letras orientam na horizontal e os números na vertical. Escrevi todas as letras em papéis brancos e joguei na bola de vidro que fica em cima da minha mesa de trabalho. Os números foram escritos em papéis azuis e estão junto com os brancos, na mesma bola de vidro.

Um dia antes de sair para filmar, retirarei um papel branco e um azul da bola de vidro e descobrirei a parte da cidade que irei caminhar no dia seguinte.

A forma do caminhar irá variar a cada dia. Posso seguir um cachorro, o mapa de uma outra cidade ou criar um mapa jogando no dado os quarteirões à percorrer.

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